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Tomemos a precisa definição de Renato Janine Ribeiro: o intelectual é o político do conhecimento. Ele é o grande responsável por sua difusão e discussão na seara pública, por fazer dele uma problemática de interesse de toda a pólis, gerando, por inevitável, consequências que afetam a comunidade de modo abrangente.
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Agora, vamos pensar nos que se veem como imanentemente pertencentes a tal classe, em especial os membros das universidades e dos institutos de pesquisa. São estes por definição intelectuais? A resposta menos e ao mesmo tempo mais óbvia é que não. Inexiste modo de fazê-los caber de imediato na categoria descrita acima.
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Pois os intelectuais autênticos falam para a sociedade em geral, enquanto que os acadêmicos dirigem-se apenas a um público específico. Lidam com a mesma matéria, porém não a trabalham com igual amplitude. Mesmo quando os catedráticos saem dos muros das instituições, eles o fazem ou amparados pela burocracia oficial ou em situações restritas a suas confrarias. Não vão às ruas colocar suas ideias à disposição do povo, nem se oferecem ao diálogo mais difícil. Somente agem numa esfera de recepção preparada, em que a hierarquia os protege de qualquer intervenção inesperada ao seu discurso pré-definido.
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Para tornar mais clara a diferença, podemos olhar para o exemplo de um senador ou deputado. Correto, ele discursa no parlamento, mas não é isso que constitui sua natureza, e sim o trabalho que tem no mínimo de quatro em quatro anos em ir às ruas falar com o eleitor. Sem essa prática, ele não vai a lugar algum. Pode ser um orador ou um agente público, só que nunca um político.
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Logo, a um membro da academia qualquer que seja chamar-se intelectual por força somente da peculiaridade de seu ofício não passa de vazio pavoneamento. Se ele só age institucionalmente, não cumpre algo além do papel de simples especialista, o que, por mais que seja importante, finda por contribuir em tornar o conhecimento um assunto privativo e não comum.
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Está aí, portanto, uma consequência ética. Assumir o posto de intelectual é uma responsabilidade e não uma honraria. Por tal motivo, muitos são também os acadêmicos que nem gostam de serem chamados dessa maneira ou ridicularizam sua figura. É preferível o riso à dura tarefa de tornar-se coletivamente relevante.
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O problema disso encontra-se no fato de que sem os intelectuais o conhecimento não circula. É o que estamos vendo. Mas, quem se importa? O chatgpt pode realizar esse ofício por nós. De resto, a academia segue fazendo uns congressos bem bonitos.
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