1-Parto das proposições básicas desenvolvidas na obra Ser Ex-Tempo*: o tempo real não é o que percebemos. Nossa noção difundida de tempo é histórica. O mundo é acontecimental. O que pensamos sobre a temporalidade normalmente são convenções agudizadas pelo capital.
2-Daí, quando há trabalho, não há que se pensar em tempo, e sim nas ações produtivas, que são o que existe realmente. A força de trabalho é empregada inevitavelmente à produção.
3-Porém, nós sabemos, não é assim que as relações de trabalho ocorrem. Tudo o que se faz está mensurado no tempo da jornada. As razões disso são claras: o tempo encobre a produção. Você é pago por um certo período e não por aquilo que realiza, no intuito básico de que não se veja de fato o valor que está sendo gerado efetivamente.
4-Ora, como Marx pôde não ter visto isso? A explicação é muito simples. Para ele, assim como para todo mundo antes de Einstein, o tempo era uma medida natural do movimento. Nada de histórico, e sim algo que se justifica empiricamente por si mesmo.
5-Portanto, tem-se a escala 6x1, quando não maior, sob a lógica rudimentar do lucro. Mais trabalho medido pelo tempo, mais riqueza invisível apropriada pelo patrão.
6-Só que não para por aí, e eis então onde está o nosso ponto, o motivo deste pequeno adendo. No ramo de serviços, o dono de uma loja, por exemplo, não contrata somente a ação do vendedor, mas também sua presença. Ou seja, mesmo que não apareça um cliente, o trabalhador deve trabalhar, mantendo o comércio aberto. Trabalho de presentificação não pago, e que se evidencia em situações especiais. Com o local fechado, pode-se chamar um vigia, remunerado somente para estar ali. Nesse caso, somente a disponibilidade está em questão.
7-Contra isso, então dizemos, a escala 6x1 é aumento do acumulo funcional não remunerado, ou mais-valia absoluta potencializada, de qualquer modo, ampliação exploratória, mal encoberta pela noção tradicional de tempo. O antagonismo radical seria conferir ou somente a presença, ou somente a produção, considerando que nunca se recebe pelos dois.
8-Ou ainda a revolução, mas isso, parece-nos, é assunto proibido.
*Silva, Victor Leandro da. Ser ex-tempo / Victor Leandro da Silva. – Cruz Alta : Ilustração, 2024. Disponível em https://editorailustracao.com.br/livro/ser-ex-tempo
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