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Uma crônica anti-imperialista



Por Bruno Oliveira


A superação do capitalismo no Brasil perpassa necessariamente o enfrentamento do grande Império. Este que tem tentáculos em todo o mundo: tentáculos que agarram as suas vítimas através da força ou da distração. O exército americano é o maior de todos os exércitos já vistos e catalogados; sua fauna abarca formas de lutas fatais e modernas que mataria um homem em questões de segundos a um arsenal atômico, que destruiria o planeta em milésimos. Já Hollywood, a grande contadora de histórias, coopta as nossas mentes, desejos, comportamentos. É óbvio que o Império não se limita a essas formas de controle. Poderíamos citar, e deixar esse texto cruelmente chato de ler, os infinitos tentáculos como, por exemplo, a supremacia do dólar, a força de Wall Street.

Não há um dia que eu passe pela sala da minha casa, não há uma noite que viaje dentro de um ônibus, não há uma visita a amigos que não haja comentários sobre um filme que o Império não esteja invadindo, aniquilando, destruindo - e tudo orgulhosamente - um país, um outro território, uma outra cultura. Essas coisas passam e sinto que, embora haja um certo desconforto de quem assiste, há um prazer exatamente porque as técnicas persuasão (o enredo, os efeitos, as músicas) são muito fortes para que um indivíduo consiga lutar contra.

Desde muito cedo, eu percebi a fraude daquilo. O que aqueles filmes passavam nada era mais do que a louvação da pilhagem. Aos poucos fui crescendo com um sentimento de revolta, queria tanto ver o troco dos povos estraçalhados pelo império. Fiquei tão feliz quando descobri que realmente um dia um povo oprimido os venceu: o Vietnã deixou os EUA no chão. Mas o Vietnã era tão longe; léguas e léguas distante desse país tropical com uma bandeira verde e amarelo. Embora, anterior à revolução comandada por Ho Chi Minh, uma outra revolução, a dirigida por Fidel e Che, também fizeram e colocaram os EUA de joelhos. Dessa eu ainda sinto o impacto. A esquerda latino-americana como um todo, na verdade. Um orgulho perpassa os nossos corações; uma nova alternativa viável, eficiente e digna de existência. Uma alternativa verdadeiramente humana e por isso contraditória, apresentando recuos e avanços.

Entretanto, eu não consigo parar de pensar no Brasil. E nossa revolução quando acontece? E a nossa vez de superar e arrancar fora os tentáculos do imperialismo de nossos corpos e mentes? Os comunistas como eu ainda procuram e acreditam nessa possibilidade e lutam todos os dias para a concretização dessa alternativa com característica brasileira.

Pululam em nossa história tentativas de superação do império, embora com a preservação do Estado burguês nacional. O primeiro que me vem à mente é Getúlio; o segundo é o governo de Luiz Inácio. Que pese as possíveis limitações desses governos é impossível negar que havia um projeto de emancipação ali.

Todos nós sabemos que a burguesia brasileira, principalmente pós-golpe de 64 é vassala da burguesia internacional com sede nos EUA. No final, a superação do capitalismo por aqui deve necessariamente superar essa burguesia tacanha ao mesmo tempo que procura se livrar do imperialismo. A ditadura do proletariado deve percorrer necessariamente esse caminho.

Enquanto em termos concretos a revolução não sai, a nossa revolta está muito bem representada na ficção cinematográfica brasileira. Chamo atenção para dois filmes em especial: Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, e Que horas ela volta?, de Anna Muylaert.

Dois filmes com abordagens distintas. Bacurau é a violência revolucionária, um espinho cravado intensamente no olho do inimigo causando dor, um murro contra o agressor; já o outro é de uma sutileza, aquela mesma que me faz recordar do poema de Drummond: a flor furando o asfalto. Ou outra imagem: a água ocupando os espaços pela fresta.

São filmes significativos: demonstram que o horizonte de superação para as nossas mazelas é o socialismo, o único -ismo capaz de ao mesmo tempo expor o problema apresentar a solução. O fim do capitalismo começa aqui; e seu algoz tem a mão do trabalhador, que é negro, índio, pobre, bicha, o nordestino, o amazônida - os despossuídos.

Se sozinho não é possível dinamitar a ilha de Manhattan, como cantou Drummond, em coletivo o impossível é apenas uma palavra escrita num poema qualquer.


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