Têm sido alvo de inflamadas discussões os debates sobre a violação dos direitos humanos no Catar, acompanhada de restrições de consumo de bebidas alcoólicas e outras regras condizentes com o modo de vida do país-sede do mundial de futebol que agora se inicia.
O Ocidente, sempre ávido por ser a régua do planeta, já atirou suas pedras, no que foi acompanhado por uma série de artistas da Indústria Cultural que, na esteira da ordem em voga, fazem protestos que curiosamente ignoram situações similares ou piores em diversos países em que se apresentam e ganham seus milhões.
Por outro lado, o Catar se defende apoiando-se no direito inalienável à autodeterminação, que é válido aí só até certo ponto. Ora, a Copa do Mundo é uma festa ocidental, logo, quem se prontifica a dá-la precisa estar apto a abrir concessões.
Do que resta, enquanto objeto válido de estudo e crítica, é uma incomunicabilidade que tem sido a tônica de toda tentativa de aproximação entre culturas divergentes. O pretenso universalismo europeu, que na verdade sempre foi uma desculpa para seu colonialismo e opressão, não casa de nenhum modo com as particularidades do Oriente, que vê também nisso um ato de resistência, o que só me lembra um comentário que ouvi de um professor a respeito do contato do restante do Brasil com os povos indígenas “fracassamos no diálogo interétnico”.
Tais problemas não se resolvem na academia, com seus neologismos frágeis, nem nos livros teóricos, que sem dúvida orientam, mas não fazem. No real, as barreiras seguem altíssimas. Quem sabe o futebol, tão desdenhado entre intelectuais, rompa algumas delas. Seguimos.
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