O voto nulo é o voto burguês. É a opção individualista e subjetivista de quem não se interessa pelo processo político, a menos que ele esteja a seu gosto. O sujeito olha os nomes, e, como em um cardápio, diz que nada daquilo lhe interessa, e vai embora. Só vale o que for mais ou menos do seu agrado. O que virá depois não importa.
Acontece que tal escolha é um luxo que não está destinado a todos. Aos mais pobres, a mínima diferença entre um candidato e outro pode significar a alternativa entre ter o que comer ou não. Logo, não é em fetiches democráticos que eles estão pensando, muito menos em uma ideologia pura, ainda mais no país em que estamos, onde os partidos não são mais do que letras que abarcam uma miríade incerta e indefinida de preceitos.
Alguns dirão que sua nulidade cabe como protesto, que marca uma posição, ou que não vale a pena sujar-se com um gesto maculoso. Mas a verdade é que tal protesto é irrelevante, ninguém liga. Há muitos anos, o número de abstenções e votos nulos tem crescido, e isso não mudou em nada o estado de coisas. Quanto aos ideais de assepsia, quem não está disposto a pôr as mãos à obra pelo povo não deve participar da política.
Foi o voto nulo que elegeu Bolsonaro, com sua turma nem nem dizendo que eram todos farinha do mesmo saco. Adotássemos a defesa do voto como princípio, e todos teriam de fazer sua escolha, e as diferenças inevitavelmente seriam encontradas. Assim, vamos às urnas. É findado o tempo dos democratas com nojinho.
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