Estavam todos à mesa. O monólogo como antípoda do silêncio.
Em seus balbucios, eles se lembravam das irritações, das tramas estúpidas do dia, de como eram bobos quando não estavam trabalhando em suas coisas, veja bem, disse um, nas coisas grandes, nas que valem a pena.
E quais que valem, quais que valem?
Essas duas, as outras não. Eu me dedico à grandeza, sim, porque ainda há grandeza. Os nossos chefes tentam nos equivocar, dizem que somente aprontamos o projeto e pronto. Mas eles podem ser elevados e nos levam junto.
Eu ouço a música daqui, mas não vejo ninguém.
É o que acontece com a cidade, com o mundo, com a existência. Não sei se nota, só que o sentido de história não existe mais. Faz um ano e pouco víamos a catástrofe, e ora estamos. O real nos passa como num filme.
João, no interior, como está?
Insuportável, carregado de receitas e olhos tristes. Vai sobreviver.
De uma certa maneira, vejo que falhamos. Porém, sabe que sou pretensioso, e vou lhes dizer a razão. Nós insistimos demais no tema da técnica. Acreditamos na máquina e não no destino.
Veio um instante tenso. Eles o olharam.
Sim, isso é sério, muito sério. O destino é o que nos espera. Contudo, não o soubemos abraçar, ficamos no meio do caminho. Então sobra agora esses pedaços escassos de brilho.
Voltaram-se para a música.
Nesse volume, de fato é impossível conversar.
Vamos indo.
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