Não são apenas os grandes impérios que formam colônias. Em cada nação, há colonialismos que proliferam do centro à margem, subjugando a segunda e fazendo-a pensar sob seus ditames, a ponto de esquecer-se de si mesma numa falsa identificação participante com sua matriz.
Em termos políticos, no caso do Brasil, isso se traduz numa excessiva preocupação com os grandes processos nacionais, em detrimento da disputa local. Nesse cenário, fala-se constante do que é discutido nas alturas capitais, enquanto o local segue sendo corroído, ignorando o fato já consumado de que é da base que se ascende à superestrutura.
De forma intuitiva, o eleitor nordestino já aprendeu essa lição. Por isso, escolhe primeiro seus representantes diretos progressistas, para depois estender essa lógica às questões federais. Assim, ele se contrapõe com inteligência ao senso comum, vaticinando a autêntica ordem da práxis política: não é o voto no presidente que o faz escolher governadores e outros ligados ao povo, e sim o reverso.
Está aí uma lição que o Norte precisa assimilar o mais cedo possível. De modo geral, todo o campo oposicionista tem se concentrado em eleger Lula, em pensar as discussões amplas, enquanto permite aqui permanecerem as tristes hordas bolsonareiras. É um andar olhando para cima, que pode custar caro a quem não percebe as pedras no chão que pisa.
O decolonialismo, qualquer que seja, não é uma teoria, uma mera dinâmica de discurso. Ele é uma prática configurada na ação real, nos atos diretos, sem os quais vira puro objeto acadêmico. Aliás, nesse momento, cabe aqui uma pergunta. Onde foram parar na eleição os nossos intelectuais?
Sigamos firmes, olhando em volta, na premente luta.
bom texto. sinto que de modo geral ainda falta uma reflexão que pense as condições dos estados do norte. bom saber que há alguém fazendo isso.