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Nolan e a persistência da ilusão


As grandes inovações trazidas por Oppenheimer não se encontram de nenhum modo em seu conteúdo, e sim na forma: a biografia de um físico contada como um filme da ação, os recortes contralineares em um gênero que deveria dar ordem aos eventos, a sexualidade explorada (essa uma novidade na trajetória do diretor) em limites desafiadores entre o banal e o significado.


Tudo isso estrutura as imagens e as torna sobretudo marcantes, porém seria demais dizer que se trata de uma revolução. Ao contrário, Nolan é um cineasta conservador, só que é justamente num desses pontos retrógrados que sua resistência se converte em algo de mais fundamental e expressivo.


Melhor dizendo, na principal delas. A obsessão pela recusa em utilizar computação gráfica na construção de suas cenas. Nesse pequeno antiquário, visto por seus pares quase como um fetichismo, é que reside a grande potência inventiva que mantém sua obra afirmada enquanto cinema. O que ele percebeu, e pouco importa se de maneira consciente, é que toda arte existe para perpetrar a ilusão, ou seja, a ideia de um outro mundo na verdade impossível, e que contudo se oferece por meio de truques aos nossos olhos. É nisso que ela nos encanta e nos conclama aos seus oferecimentos.


Nos desenhos algorítmicos, esse traço desaparece. Vemos as coisas, e logo percebemos que elas não fazem parte nem podem fazer do que vivemos. É o simulacro puro sob o pano verde que encobre até os nossos olhos. Por outro lado, dentro dos chamados efeitos práticos, ficamos como que assistindo ao mágico que bem a nossa frente faz desaparecer e ressurgir o coelho. Ora, claro que sabemos que ele não fez de fato isso, mas é estranho e incrível constatar que de alguma forma aconteceu.


E o que ganhamos com essa mentira assumida? Exatamente a vantagem ilusória, que é a de ratificar um mundo real, lembrando-nos igualmente de que este não se dá de forma imediata e espontânea, e sim como resultado de uma densa investigação.


É o que já fez o cinema e faz ainda Nolan. O restante não passa de discurso líquido. O demais é a obscenidade da simulação total.

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