Refletir sobre situações concretas, ações concretas, dificuldades concretas.
Ter uma vida ativa na cultura e no pensamento sob a égide do cotidiano burguês. Isso fora da academia, ou sem vínculo acadêmico, porque nesse caso já se está na ordem da institucionalização, dominada pelos sistemas.
Mas aí está o primeiro problema. Fora do institucional, que utilidade tem? Sem meta definida, para que serve pensar? A pergunta parece retórica, mas faz muito sentido na lógica utilitarista. Se não é para ajudar a ter o diploma, esquece.
Mas, digamos que pense que essa necessidade está ao pé da de se divertir ou ir à igreja, quer dizer, trata-se de algo de que precisamos, ainda que não imediatamente útil. Vamos nos mover então por dever ou desejo, mas vamos. Provavelmente é válido pensar assim.
Claro, em nenhum outro lugar temos isso confirmado. As redes sociais não corroboram a perspectiva, no máximo promovem encontros virtuais. Porém sabemos que os diálogos por presença são mais contributivos. Por outro lado, não falta quem nos chame à festa ou à missa, e consideramos isso pertinente. O restante é que é anatural.
Portanto, isso. Primeiro, participar da cultura e do pensar por senso de necessidade. Estabelecer essa tarefa como dever, tal qual outros que temos comumente. Uma novena, um aniversário de família.
Do outro lado, a vida e suas demandas, todas antipensantes ou arrastando-nos para a inércia. O trabalho, a casa, as contas, a saúde, o trânsito. Não dá para fazer nada a não ser deitar-se e esperar o dia seguinte. Só o repouso faz sentido. Chega aí o tempo da guerra, contra a qual só podemos bater o pé ou capitular. Os sistemas dominantes vencem agora pelo cansaço e não pela violência. Por vezes, o derrotado sequer faz ideia de que perdeu. Fica em casa ou no shopping tranquilo, pois foi conduzido com habilidade a esse desejo.
O compromisso, a irritantemente moral única saída.
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