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Ciência e literatura



I

É preciso continuarmos nos perguntando para que afinal serve analisar uma obra literária quando podemos simplesmente fruí-la. Essa é uma pergunta pertinente. Contudo, que se tente encontrar sentido em fazer essa análise de maneira científica, está aí uma questão que desafia contumazmente a lógica e o bom senso.

II

Pois o que se ganha falando de uma ficção pela ciência, é difícil dizer. Por certo, não somos capazes de negar que alguma cientificidade pode ser benéfica, mas fazer do exame literário cientificamente dirigido um a priori de leitura consiste, além de uma impostura deliberada, um artifício que mais afasta os leitores do que os aproxima, tamanha é a improdutividade das proposições extraídas do fragílimo tubo de ensaio em que são enfiados os símbolos estéticos.

III

Esse fóssil cientificista persiste de maneira clara e avançada na maneira como a produção sobre literatura se dissemina. Cada vez mais, entroniza-se a forma emprestada das ciências configurada no artigo, onde, sem nenhum esforço de adaptação, reproduz-se o critério enfadonho das referências, do método, da fundamentação, dos resultados, sem que com isso a matéria literária apareça, já que esta mais evanesce do que desponta nas ferraduras lógicas mal-arranjadas e surgidas originalmente para falar sobre pedras.

IV

Então, tem-se o inutilismo: um amontoado de citações entremeadas por parágrafos insossos, sem qualquer predestinação para o aprofundamento compreensivo. O autor, por seu lado, até teria o que dizer, mas foi impedido. Tudo que lhe exigem é que faça caber na folha a pantomima do científico.

V

Porém, sejamos justos. Estamos tratando da interpretação. Sem dúvida, quem faz história da literatura pode ser cientista. Sociologia também. E os filólogos, e também os culturalismos – isso, claro, considerando-se os limites epistemológicos de cada atividade. Os problemas estão para os críticos, os comentadores, os intérpretes. Estes, quando dizem estar no terreno da ciência, traem a si, a ciência mesma e ao literário. Engessam a todos em uma farsa, que depois entregam na maneira de uma dissertação ou tese em repositórios esquecidos.

VI

Em síntese, o que vale aqui é tão somente um dizer. Se há uma ciência da interpretação literária, ela é no mínimo um desperdício. Outras formas que não a científica estão mais aptas a atingir o conhecimento aprofundado sobre a criação.

VII

Ou, em termos mais palpáveis, esqueçam os artigos.

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