Cinco refrações
I
O decolonial: uma palavra mágica, com a qual os decolonialistas não sabem o que fazer. Porque não é mistério, todos já sabem, a sensação permanente é de que se revolve mais uma bomba plantada para perpetuar a hegemonia do Ocidente, que não pode mais agora do que tentar seduzir o subalterno, pois não tem mais a força, pois lhe falta a desinibição de oprimir.
II
Ou talvez não. Já que de todo modo diga-se antes: só há decolonização onde houver emancipação material, econômica, produtiva. O mais são cantos do pássaro na gaiola. Nisso, o cenário real não traz alento. Os emergentes não emergiram o bastante. São ainda escravos da lógica e da técnica do centro. Estamos atrás do meio caminho.
III
Mas voltemos à Academia, onde se pode sonhar. Diriam alguns que é para isso que ela serve, embora os sonhos não alimentem ninguém. Ali, interrogamos: como servir-se de uma teoria que não é nossa e a nosso favor? A solução fácil, e, portanto, estúpida, é banir a tradição. Contudo, ela retorna contra nós como fantasma. Não pensamos fora do logos, não pensamos. É universal? Não, não é. Mas então há outro caminho? Procuramos e não tem.
IV
Fica, portanto, como possibilidade, a ideia de apropriação. Sim, vamos tomar o que fizeram, depois fazer o que quisermos disso. Não deixaremos de lê-los, porém leremos mais o que fizemos de suas produções do que eles. Conversaremos com nossos pares de igual para igual com Badiou, no entanto com uma diferença. O vizinho sabe mais a respeito de nossos problemas.
V
Isso parece simples, básico, fundamental. Porém é raro que ocorre. Basta perguntar na aula de amanhã de quem se está falando, ou qual foi o último pensador original amazônico que o professor leu. Há, mas esses são poucos. Exatamente! Pois de que se trata aqui é de fabricá-los, urdi-los com a massa da proliferação de nosso debate interno. Com todo o risco, está na hora de levar a sério esse princípio.
Nota – o título alternativo acima é um estereótipo, e dos bens ruins. O cocar tipifica, assim como a imagem de Kant, O Iluminista. Mas aqui segue a voragem da destruição. Criaremos imagens melhores, contanto que saibamos admitir que elas estão por ser feitas.
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