A filosofia é útil

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A filosofia não é inútil. Esse é o seu maior problema. Se ela fosse dispensável, os filósofos seriam livres e poderiam pensar no que quisessem. Como não, eles são prisioneiros do mundo prático como um outro qualquer, mas que se constrangem tímidos às tentações do grito e do esperneio.

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Na verdade, é uma grande fantasia e um artifício dos mais espertos, porém frágil, esse de dizer que não tem utilidade, que não atende aos interesses das forças dominantes e tudo mais que já ouvimos. Ora, em toda a história, sempre houve filosofias que servissem ao poder. Mais ainda: sempre houve filosofias que foram cúmplices do poder, sem as quais este jamais existiria. Logo, também lhes cabe uma cadeira especial na tribuna dos réus.

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O que os filósofos queriam era que lhes dissessem: você não serve para nada. E daí eles poderiam cuidar da sua vida. Mas não. Vivem-nos chamando para cátedras e debates, pedindo que formem conceitos válidos e legitimações compatíveis para o estado de coisas, ou então que combatam o status quo e se juntem à linha dos rebeldes. Enquanto isso, tudo que eles desejavam era perguntar por que há o mundo, por que existe algo e não o nada.

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Isso, no entanto, nunca ocorreu e não vai ocorrer, por mais que se tente fugir. Por tal motivo Marx conclamou à mudança. O que escreveu antes foi apenas um blefe, para poder olhar na cara dos acadêmicos e dizer para pararem de fingir, para saírem de suas falsas nuvens e assumir que também são do mundo verdadeiro. Em certa parte, foi o que conseguiu, porém permanece no imaginário uma ilusão.

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Por outro lado, o que a dita sociedade quer, ou melhor, o que os senhores dela querem, é que o filósofo seja não desprezado, não espoliado, e sim convertido num operário-padrão. Por trás dos gestos derrisórios, o que se esconde é uma ordem para que sirva somente a eles, que produza ideias e imagens que estejam sempre a favor do seu lucro e seus benefícios. Nada além.

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Dessa forma, empurrados contra a parede, os filósofos ou atendem ao chamado ou fingem não ouvir, quando na verdade deveriam responder, dizendo: veja, eu sei o que quer de mim, mas não lhe darei. Meu trabalho todo não é ser um técnico ideológico, e sim um desamarrador de correntes. Por minha atividade é que todos não mais lhe servirão.

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Os filósofos ajudaram a transformar o mundo de diversas maneiras. O que interessa agora é revolucioná-lo. Sim.